Músico, professor e produtor musical
“Considero os grande shows como manifestação popular, massificação e não algo cultural. É puro entretenimento pois cultura é algo que enriquece seu conhecimento, te engrandece, abrir portas.”
“Tudo era direcionado para sentir a música, transformar a energia em emoção, hoje você ouve nas canções as mesmas sequências harmônicas repetitivas, quando se quer algo com qualidade se busca no passado. Será que o melhor da música está no passado?”
Fatos da Região: Qual a sua origem?
Luíz Gomide: Nasci na cidade de São Paulo e vim pra Poá em 1969.
Fatos da Região: como foi seu primeiro contato com a música?
Luíz:Nasci em berço musical pois meu pai (Erasto Gomide) fazia dupla com meu tio (Cecilio Gomide), isso no final dos anos 60 e em minha casa. Nos finais de semana era o encontro da viola onde várias duplas se revezavam, era muito novo mas meu pai, inclusive, cita o nome de um “famoso”que rodava por lá, (Pardinho) e nesse universo sertanejo fui criado, influencia natural.
Fatos da Região: Conte mais.
Luíz: Aos 9 anos já me interessava por Beatles, assistia a Jovem Guarda e com tanta informação já começava a “arranhar”um violãoziho.
Fatos da Região: E quando pegou firme?
Luíz: Toquei contrabaixo em algumas bandas até os anos 80, mas nas andanças a gente vai aprendendo a executar outros instrumentos, um pouco de cada como guitarra, teclado, bateria. Não dá pra ficar parado.
Fatos da Região: Seus irmãos também seguiram pela trilha da música?
Luíz: O Edson é professor de música desde os 17 anos. O Cláudio é músico profissional desde os anos 80 e possui uma banda que se apresenta regularmente no Restaurante Florestal, em São Bernardo do Campo há mais de 15 anos. E o Carlinhos que todos admiramos como um excelente guitarrista.
Fatos da Região: Como era tocar em banda nos anos 70/80?
Luíz: Tinha que ter a música na veia, garra, era na raça, se ganhava dinheiro tocando, não tinha esse negócio de som mecânico, tínhamos valor e reconhecimento.
Fatos da Região: E a qualidade dos músicos?
Luíz: Como eu disse “música na veia”, grandes possibilidades pra desenvolver seu trabalho apesar das dificuldades físicas até pra se conseguir um bom instrumento, mas isso não era impecílho, sensibilidade, garra, coração superavam tudo, a qualidade dos músicos era excelente, a música pela música, pouca técnica, muito amor.
Fatos da Região: Em relação a hoje?
Luíz: Tudo era direcionado para sentir a música, transformar a energia em emoção, hoje você ouve nas canções as mesmas sequências harmônicas repetitivas, quando se quer algo com qualidade se busca no passado. Será que o melhor da música está no passado?
Fatos da Região: Cite exemplos:
Luíz: Você vai numa festa o que ouve? anos 60, 70 e talvez 80, e no resto dos anos, até agora nada aconteceu? Quem está iniciando ou até já é veterano na música curte o que? (generalizando) Iron Maiden, Deep Purple, Led Zepplin, Ozzi, Credence, clássicos do rock, isso sem contar as românticas antigas que não saem das novelas . Quer mais?
Fatos da Região: Qual é sua opção como músico?
Luíz: Gosto da nossa MPB, de algumas bandas nacionais, agora,tenho sim meu gosto pessoal e posso dizer que o “rock progressivo” é o que cala fundo em mim por ter uma estrutura bem elaborada com momentos de peso e logo em seguida de paz, nos induzindo à reflexão.
Fatos da Região: Com tanta qualidade, porque ocorreu o declínio?
Luíz: Ela está aí, só que se expõe timidamente, não aparece. Nosso pais é rico em musicalidade, vemos isso em cada esquina, o mundo se curva diante nossa música, nossos músicos, mas não essa que nos é imposta pela mídia.
Fatos da Região: E os jovens músicos?
Luíz: Posso dizer que a maioria deles traz consigo a vontade de aprender técnicas necessárias para se enquadrar no movimento musical moderno, só que preferem ainda os clássicos pra se manifestarem.
Fatos da Região: Curtem os mesmos ídolos do passado?
Luíz: Com certeza, em 1969 quando estudava no Senai/SP pela influência que tive da música sertaneja, sofri bulling após meus colegas descobrirem sobre esse fato.
Fatos da Região: Preconceito devido a saber tocar música sertaneja?
Luíz: Existia muito preconceito, hoje todos curtem esse tipo de música, mas para realmente as duplas modernas mostrarem que são sertanejos tocam os clássicos dessa época como Tião Carreiro e Pardinho, Liu e Leu, Tonico e Tinoco.
Fatos da Região: E no Rock’n’Roll?
Luíz: Agora no rock isso também se repete, anos 60/70: Jimmi Hendrix, Led Zepplin, Credence, Doors, Beatles, Deep Purple, depois Guns, Metalica, Iron Maiden, Black Sabbath e por ai vai...
Fatos da Região: Qual sua atividade hoje?
Luíz: Minha atividade principal é lecionar musica e produção musical.
Fatos da Região: Aqui em nossa região não existe intercâmbio entre as prefeituras, não há nenhum projeto que as una na área cultural, o que achas?
Luíz: Noto que em área nenhuma existe intercâmbio, a rua começa numa cidade e continua na outra e assim o asfalto vai só ate a divisa. Agora área cultural acredito que deve ser levado em conta as características e necessidades de cada município, e sou pela individualidade.
Fatos da Região: O que acha dos grandes shows com artistas famosos e milionários? A massificação! No caso de Poá, parece ser tradição despejar enormes verbas públicas nos bolsos de artistas famosos e que estão na crista da indústria cultural, isto é, da arte a serviço do mercado. Concordas?
Luíz: Considero os grande shows como manifestação popular, massificação e não algo cultural. É puro entretenimento pois cultura é algo que enriquece seu conhecimento, te engrandece, abrir portas.
Fatos da Região: O que você faria pra melhorar a cultura de nossa cidade?
Luíz: Acredito que espaço físico não seja o problema, o que precisamos é criar um espaço pra que os artistas da cidade possam interagir, discutir idéias com organização e assessoria necessária dos responsáveis pela área.
Fatos da Região: Considere que o orçamento para a Cultura em nossa cidade é enorme, portanto não falta dinheiro.
Luíz: Não adianta fazer por fazer, tem que ter a vontade e o conhecimento para ser atuante nesse movimento, só assim vamos por a mão na massa pois saberemos a real necessidade e o melhor direcionamento nas ações.
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