terça-feira, 28 de julho de 2009

Entrevista: Ana Lucia Ferreira – coordenadora da APEOESP

“Não interessa aos poderes públicos e nem à elite brasileira ter cidadãos bem formados, pois a educação quando bem ministrada forma cidadãos pensantes, atuantes e exigentes a respeito de seus direitos”

Ana Lucia Ferreira, coordenadora da sub-sede de Suzano da APEOESP (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), aposentada, 26 anos no magistério.

Fatos da Região: Como você vê a substituição de Maria Helena Guimarães por Paulo Renato Souza na Secretaria Estadual da Educação?
Ana Lucia: Foi reflexo da luta da APEOESP mais do que os erros que ela cometeu que foram gravíssimos. Quanto ao Paulo Renato não temos ilusão pois já foi secretário do PMDB em São Paulo e ministro no governo Fernando Henrique Cardoso, e agora discursou afirmando só ter aceitado a pasta de secretário por compromisso com seu partido. É um erro partidarizar a educação.
Fatos da Região: Em São Paulo temos, segundo a APEOESP, 44 % dos professores (cerca de 100 mil) como temporários (OFA, ocupante de função atividade), qual explicação?
Ana Lucia: Há poucos concursos públicos e os que existem são excludentes, não consideram o tempo e a experiência do professor. Por isso defendemos concursos públicos classificatórios. O professor OFA é obrigado a mudar de escola para poder trabalhar e isso quebra o processo pedagógico, o que não é culpa Reivindicamos aumento dos investimentos na Educação e que eles cheguem a 10 do PIB (Produto Interno Bruto) como outros. O Brasil investe apenas 3,4% na Educação. O investimento no Brasil está aquém do necessário, tanto dos governos federal como o estadual.
Fatos da Região: As conseqüências na educação?
Ana Lúcia: O pouco investimento na Educação provoca a superlotação das salas, violência, problemas nas estruturas, baixos salários que obrigam muitos professores a terem dois empregos fazendo sua jornada de trabalho excessiva. E isso se reflete na queda da qualidade do ensino.
Fatos da Região: E sobre a Progressão Continuada?
Ana Lucia: Nós também não queremos que o aluno repita de ano. Somos contrários à forma como este projeto foi implantado nas escolas.
Fatos da Região: Como assim?
Ana Lúcia: Não houve discussão com educadores, com a comunidade e nem com os pais. Não se reestruturou as salas-de-aula. Enfim, não se criou formas de melhorar o ensino. A Progressão continuada virou promoção automática.
Fatos da Região: E os projetos do governo de incentivar a participação da comunidade nas escolas?
Ana Lúcia: É importante a comunidade participar como membro da escola, não apenas como moeda de troca, prestando serviços voluntários, ou seja, ocupando a responsabilidade que é do Estado.
Fatos da Região: Como conter a violência nas escolas?
Ana Lúcia: A escola é o retrato da sociedade. A escola tem que ter mais autonomia para elaborar projetos junto à comunidade buscando soluções para combater a violência. O autoritarismo na escola não resolve o problema. Nossa sociedade deixará de ser violenta quando houver uma justa distribuição de renda e nossos jovens tiverem uma melhor perspectiva de vida. Combater a violência é um dever de todos, porém confere ao Poder público a responsabilidade da segurança da sociedade.
Fatos da Região: E sobre o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente)?
Ana Lucia: O ECA foi e é um grande avanço em nossa sociedade. Quando ele for realmente aplicado será um instrumento maravilhoso. O poder-público tem que dar mais estrutura, recursos e treinamento para que os componentes dos conselhos tutelares possam trabalhar realmente de acordo com o ECA. Quem dera não precisássemos de um estatuto para proteger nossas crianças e adolescentes.
Fatos da Região: E sobre os 15 anos de PSDB em São Paulo?
Ana Lucia: O PSDB acabou com os serviços públicos em São Pulo. O neoliberalismo prega o enxugamento do Estado e isso só acontece com o corte de gastos, e nisso o PSDB está sendo mestre. Não interessa aos poderes-públicos e nem à elite brasileira ter cidadãos bem formados, pois a educação quando bem ministrada forma cidadãos pensantes, atuantes e exigentes a respeito de seus direitos.
Fatos da Região: E qual a esperança para a educação pública?
Ana Lucia: Nossa Luta (APEOESP) é por uma escola de boa qualidade. Minha esperança é ver ainda a escola pública realmente formando cidadãos comprometidos para a melhoria da sociedade. Ver realmente os trabalhadores em educação valorizados e respeitados por todos, inclusive pelos governos municipal, estadual e federal.

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