
“A saúde é um direito de todos e um dever do Estado.”
“O Estado está se eximindo de suas responsabilidades em cuidar dos serviços e o entrega a entidades privadas e à terceirização, que acabam selecionando quem pode ser atendido e quem vai ter que ficar até meses à espera de atendimento médico.”
Kátia Aparecida dos Santos possui um longo currículo, pois além de dirigente sindical e auxiliar de enfermagem no Hospital das Clínicas Luzia de Pinho Melo (antigo SUDS), é membro do Conselho Municipal da Saúde em Ferraz de Vasconcelos e Suzano, representando o profissional da saúde, presidente Conselho de Saúde de Mogi das Cruzes e também membro do Conselho Estadual. É vice coordenadora dos Conselhos de Saúde Nacionais, pelo Estado de São Paulo.
Fatos da Região: Como se encontra a Saúde em nosso estado?
Kátia Aparecida dos Santos: A Constituição de 1988 definiu a política de implementação do SUS (Sistema Único de Saúde) que possui como diretriz principal “A saúde é um direito de todos e um dever do Estado”.
Fatos da Região: Então o que deu errado?
Kátia: O Estado está se eximindo de suas responsabilidades em cuidar dos serviços e o entrega a entidades privadas e à terceirização, que acabam selecionando quem pode ser atendido e quem vai ter que ficar até meses à espera de atendimento médico. Tal situação acaba até sobrecarregando as Santa-Casas, principalmente aqui em São Paulo.
Fatos da Região: Como assim?
Kátia: Como o atendimento pelo SUS acaba deixando muita gente sem atendimento, as pessoas procuram as Santas-Casas, porém elas (as Santa-Casas) recebem recursos do SUS e também das prefeituras e das entidades filantrópicas para mantê-las, assim sua situação não fica tão grave.
Fatos da Região: Como se processa essa privatização?
Kátia: A UNIFESP ganha a administração e em seguida a repassa à Organização Social ASPDM, em nossa região. O mesmo ocorre com a Universidade de Mogi das Cruzes que repassa à FAEP, ocorrendo aí uma terceirização dos serviços públicos. A UNIFESP e a UMC disputam os hospitais na região.
Fatos da Região: E quais as conseqüências disso?
Kátia: As consequências se dão no atendimento à população. Se há vaga o paciente é atendido, se não há vaga, fica na fila de espera por tempo indeterminado. As unidades não estão dando conta da demanda.
Fatos da Região: Então faltam vagas nas unidades?
Kátia: Não é bem assim. A UNIFESP propôs atendimento de alta especialidade, porém existem outros hospitais públicos que atendem a isso, o que necessitamos é atendimento de média complexidade. Os pacientes que necessitam de tratamento de alta complexidade deveriam ser indicados para outros hospitais devidamente qualificados.
Fatos da Região: Então temos poucos casos de alta complexidade?
Kátia: Sim, tivemos poucos casos de alta complexidade oriundos de nossa região nos últimos anos. Alguns foram pacientes que vieram de outras regiões para serem tratados aqui.
Fatos da Região: Então sobram vagas para casos de alta complexidade e falta para média complexidade?
Kátia: Sim. Com isso o atendimento de média complexidade acaba sendo reprimido, ocasionando sérios danos à saúde dos pacientes ocasionando também a morte de muitas pessoas que poderiam ser devidamente tratadas.
Fatos da Região: Vocês possuem aliados no governo paulista?
Kátia: O que choca é que parceiros que lutaram contra tudo isso que está acontecendo, ao ganharem o governo de São Paulo se aliaram às O.S. contrariando tudo que defendiam antes.
Fatos da Região: Mas se sobram vagas em alta complexidade, e falta de nas de baixa complexidade, as O

Kátia: Veja bem, o Pronto-Socorro não é lucrativo para essas O.S. pois os pacientes estão em trânsito constante. A alta complexidade sim que geram alto custo e portanto boa remuneração às O.S.
Fatos da Região: Explique
Kátia: A alta complexidade gera custos como tempo de internação, medicação, exames, uso de equipamentos, vários profissionais, materiais cirúrgicos, lavanderia, assepsia e outros que tornam esse serviço altamente rentável. O Estado terceirizou seu serviço para as O.S. e estas passaram para outras, quarteirizando-as, tornando os serviços de saúde caro e ineficiente.
Fatos da Região: Hoje, como é marcado um exame?
Kátia: É feito o atendimento de emergência e o paciente é liberado, se precisar de especialidade tem que esperar uma ligação telefônica para marcar para depois de meses.
Fatos da Região: Muitas pessoas ficam por meses sem poderem se distanciar de suas casas à espera do tal telefonema. Algumas pessoas nunca receberam...
Kátia: Veja, o prédio do hospital é do Estado. Os equipamentos são do Estado. Parte dos funcionários são pagos pelo Estado, já que as O.S. possuem poucos empregados. As O.S. quarteirizam os serviços, não têm quase despesas e conseguem grandes lucros.
Fatos da Região: Então não faltam recursos para a Saúde Pública?
Kátia: Os administradores, os bons administradores é que faltam.
Fatos da Região: Os recursos estão indo para onde?
Kátia: Devem estar indo para caixas de campanha eleitorais de aliados do governo paulista, pois os valores destinados à saúde, acredito, são suficientes para se prestar um bom atendimento. O PSDB tem os AMEM (Ambulatório de Especialidades Médicas). Pega grande parte dos hospitais públicos como o Dr Arnaldo (Jundiapeba), fecha o ambulatório (estadual), transfere os profissionais, reforma as instalações e entrega o ambulatório funcionando, só que terceirizado. Todo material e estrutura passa a ser utilizado pelas O.S.
Fatos da Região: Com todos esses problemas, a população acaba pressionando os prefeitos...
Kátia: Se no município não tiver a especialidade necessária, é sua obrigação levar o paciente até aonde seja atendido. Ambulâncias, SAMUs, são obrigações existentes e previstas no SUS.
Fatos da Região: E os recursos?
Kátia: Temos o Fundo Municipal de Saúde que é patrocinado pelo Fundo Nacional da Saúde.
Fatos da Região: Transparência?
Kátia: As conferências municipais da saúde, estadual e nacional foram contra a terceirização, porém o governo de São Paulo não está respeitando as decisões tomadas. O governo apresentou o Projeto de Lei 62 para permitir que as O.S. possam assumir qualquer serviço público, para assim acertar sua situação que está irregular pois elas somente usurfruem das estruturas públicas e não fazer qualquer investimento.
Fatos da Região: E qual a saída para essa crise crônica na Saúde Pública aqui em São Paulo?
Kátia: A administração tem que ser direta (governo), os administradores públicos com responsabilidade pública e social. Quando precariza o aterndimento à população é por conta da má administração. A competência técnica deve prevalecer dobre as indicações políticas.
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Conheça mais:
APM ou ASPDM - Associação Paulista de Medicina é uma entidade do Terceiro Setor, sem fins lucrativos e de utilidade pública que representa médicos do Estado de São Paulo na capital e interior. Foi fundada em 29 de novembro de 1930.
FAEP – Fundação de Amparo ao Estudo e à Pesquisa, ligada à Universidade de Mogi das Cruzes (UMC).
O.S. - Organização Social - é uma qualificação dada às entidades privadas sem fins lucrativos (associações, terceiro setor, fundações ou sociedades civis), que exercem atividades de interesse público. Esse título permite que a organização receba recursos orçamentários e administre serviços, instalações e equipamentos do Poder Público. A Associação Paulista de Medicina (APM) e a FAEP são exemplos.
SAMU - O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu/192) – Criado em 2003, é um programa do governo federal que tem como finalidade prestar o socorro à população em casos de emergência
SUDS - O Programa SUDS – Sistema Unificado Descentralizado de Saúde, foi a primeira aproximação estratégica para o Sistema Único de Saúde. O SUDS aprofunda a experiência de repasse de recursos, via convênios, assim como de transferências de responsabilidades.
SUS - Sistema Único de Saúde - Criado pela Constituição Federal de 1988 para que toda a população brasileira tenha acesso ao atendimento público de saúde
UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo é um dos centros de formação e titulação de profissionais na área da saúde no Brasil
Ambulatório: Conjunto de consultórios, com várias especialidades médicas, preparadas para pronto atendimento em pequenos procedimentos (suturas, pequenas cirurgias, etc.) e consultas
Média Complexidade - É composta por ações e serviços que visam atender aos principais problemas e agravos de saúde da população, cuja complexidade da assistência na prática clínica demande a disponibilidade de profissionais especializados e a utilização de recursos tecnológicos, para o apoio diagnóstico e tratamento
Alta Complexidade - Conjunto de procedimentos que, no contexto do SUS, envolve alta tecnologia e alto custo, objetivando propiciar à população acesso a serviços qualificados, integrando-os aos demais níveis de atenção à saúde (atenção básica e de média complexidade).
Santa Casa - Entidade privada, é uma irmandade que tem como missão o tratamento e sustento a enfermos e pessoas incapacitadas.
Terceirização (no setor público) – O governo abdica de sua soberania sobre o patrimônio público e contrata empresas privadas para o utilizem, remunerando estas empresas posteriormente. As O.S. são exemplos disso.
Quarteirização – As O.S. contratam outras empresas para executarem os trabalhos de sua alçada.
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