quarta-feira, 14 de março de 2012

Pedro Luís da Silva

Professor, bacharel em Letras e em Economia Política
Pedro Luís da Silva, ou simplesmente Pedro, possui formação educacional e cultural ímpares. Passou pelas universidades no Brasil e na ex-União Soviética, tendo se formado em economia política pela Universidade da Amizade entre os Povos – Patrice Lumumba, se tornando referência no ensino oficial fundamental e médio.


Fatos da Região: És natural de onde?
Pedro: Sou de Santana do Jacaré, em Minas Gerais e casado com Marcia Aparecida da Costa.
Fatos da Região: Quando vieste para cá?
Pedro: Vim para Suzano em 1968, com sete anos, em Vila Amorim.
Fatos da Região: Família?
Pedro: Éramos dez pessoas. Meus pais, cinco irmãos e três irmãs.
Fatos da Região: Como foi sua integração na nova cidade?
Pedro: Foi rápida. Acho que a criança não sente muito devido ao ambiente escolar.
Fatos da Região: E como era a vida?
Pedro: Sempre muito complicada. Meu pai trabalhava na construção civil como servente. Minha mãe trabalhava como doméstica. Era bem difícil.
Fatos da Região: Emprego?
Pedro: Com 14 anos entrei na Companhia Suzano de Papel como mensageiro (Office-boy).
Fatos da Região: Como via o mundo:
Pedro: Meu irmão, o Zé Itaú, militava na Pastoral Operária e o Marcos (Cavuco) no movimento sindical. A partir do momento em que meus irmãos me davam textos sobre política, como livros e outros materiais, é que despertou meu interesse pela política e pelo funcionamento da sociedade.
Fatos da Região: Quando foi isso?
Pedro: Estávamos ainda no governo militar.
Fatos da Região: E os estudos?
Pedro: Terminei o colégio técnico (eletrônica) e fui para Moscou (Rússia), em outubro de 1980.
Fatos da Região: Como aconteceu isso?
Pedro: Ganhei uma bolsa de estudos através do PCB (Partido Comunista do Brasil), pois meu irmão era do partido.
Fatos da Região: Estudou o que?
Pedro: Economia Política na Universidade da Amizade entre os Povos – Patrice Lumumba, por sete anos, em Moscou.
Fatos da Região: Quantos brasileiros estudavam lá?
Pedro: Cerca de 60, na época.
Fatos da Região: Fale sobre isso!
Pedro: O contato com pessoas de outros países, conhecer o ser-humano com seus defeitos e qualidades, as diferenças culturais, o comportamento, os relacionamentos, as músicas, as danças. Dilui a mistificação da diferença entre as pessoas. Essa aproximação faz com que vejamos as outras pessoas, apesar de diferentes, da mesma forma que vemos pessoas iguais.
Fatos da Região: E o ensino na União Soviética?
Pedro: Os professores eram profundamente comprometidos com a educação, com o estudo. Tínhamos bibliotecas muito boas...
Fatos da Região: E no interior das salas?
Pedro: Até 1917 os professores tinham grande desenvoltura em dialogar sobre questões históricas e sociais, mas após esta data, ao tratar de questões contemporâneas a coisa ficava difícil devido à política castradora das individualidades, inibindo o pensamento crítico.
Fatos da Região: Mas não era uma República Socialista?
Pedro: O Socialismo como tal nunca se realizou na URSS, O sistema era burocrático de propriedade estatal. A participação do povo nas decisões era insignificante.
Fatos da Região: E as artes, a cultura popular?
Pedro: Sempre tivemos bons artistas, mas sempre dentro do permitido. O espaço para reflexão era diminuto. Mas mesmo dentro de um sistema totalitário como o soviético, o povo era de extrema simpatia.
Fatos da Região: Como é o humor do russo?
Fatos da Região: O russo é extremamente bem-humorado, contam piadas e fazem a gente morrer de rir. Inclusive meu amigo Tio Kostia (Constantin) dizia que a elite burocrática já vivia no comunismo e o povo só o “caralho” sabia para onde ia...



Fatos da Região: Então valeu a experiência?
Pedro: Foi muito gratificante pela possibilidade de conhecer todas as pessoas do mundo, suas culturas, seus dramas e suas vidas.
Fatos da Região: Quando retornaste?
Pedro: Retornei em abril de 1988. O impacto foi grande. Encontrar um país em que as condições econômicas continuavam ruins.
Fatos da Região: E essa readaptação?
Pedro: Foi mais difícil que quando fui pra URSS pois aqui estava para toda vida. A crise econômica que conheci quando parti era a mesma de quando voltei.
Fatos da Região: Emprego?
Pedro: Trabalhei na empresa privada e em 1997, após me formar em Letras, ingressei na Educação como professor de Literatura e Língua Portuguesa, o qual me encontro hoje.
Fatos da Região: E o Brasil, hoje?
Pedro: Acho que no Brasil, o problema maior é que não se privilegia o mercado interno, a juventude, não se busca o desenvolvimento interno. Por regra geral o país está muito a reboque dos grupos internacionais.
Fatos da Região: E com o PT no governo?
Pedro: Imaginava que o PT fosse mais ousado em desenvolver a economia desenvolvendo todas as regiões do país, mas acabou fazendo uma política tradicional, participando dentro de instituições falidas como o parlamento que não atua, é um ente sem representação política. A política se torna carreira e o político se torna um funcionário do governo defendendo a própria empregabilidade, para se manter no poder.
Fatos da Região: Como mudar isso?
Pedro: Repensar o mundo em outras bases de organização com a participação popular, sem a ambição de se fixar no poder se tornando escravo de si mesmo.
Fatos da Região: Mudar tudo?
Pedro: O Sistema Negoci-al-Mercantil (capitalismo) está falido. Ele só oferece migalhas para o povo.
Fatos da Região: Mas os bens de consumo não chegam à todos?
Pedro: O acesso aos bens de consumo não garantiu dignidade às pessoas. As instituições estão todas comprometidas com o capital e suas ideologias, elas contribuem para a valorização do capital. Isso está mais evidente hoje com a crise nos países capitalistas.
Fatos da Região: E o futuro?
Pedro: O futuro promete muita luta. Quanto mais o sistema se desenvolve, mais ele impõe mudanças dele mesmo.

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