quinta-feira, 19 de julho de 2012

Entrevista: Carlos Alberto Ferreira

Bacharel em Sociologia e História


“A partir do início da década de 1980 o capitalismo estabeleceu uma nova relação de investimentos com a área social, trabalhando com a lógica do estado-mínimo, incentivando ainda mais a iniciativa privada e privatizando serviços, e nisso acabou asfixiando os serviços públicos”.

“Nestes últimos 30 anos, 16 anos de PSDB no governo, com início na gestão do então governador Mario Covas, a farra privatista teve seu auge, começou com demissões e a redução nos  investimentos públicos,
aliado às privatizações. Estas eram as orientações políticas”.

 O professor Carlão fala sobre a situação da Educação no Brasil e principalmente sobre a  essência dos problemas, apresentando um quadro perverso e que atende a interesses específicos.

Fatos da Região: És natural de onde?
Carlão: Sou de São Paulo, capital, Vila Monumento.
Fatos da Região: E mora aonde?
Carlão: Resido em Suzano,desde 1984.
Fatos da Região: Por que escolheste esta região para morar?
Carlão: A proximidade com o meio-ambiente, com o verde. E na época Suzano possuía um ar mais interiorano, mais calmo.
Fatos da Região: E o que mais?
Carlão: Tenho parentes em Suzano.
Fatos da Região: E o magistério?
Carlão: A preocupação em exercer uma atividade vinculada à população, ao povo trabalhador, ter uma utilidade social com a profissão. Trabalhar com Educação, na periferia, era um dos objetivos que planejei e consegui atingir.
Fatos da Região: Como começou?
Carlão: Formei-me no final de 1983 já lecionando, mudei para Suzano onde permaneço até hoje.
Fatos da Região: De lá para cá?
Carlão: Houve um crescimento econômico muito grande, quase que dobrou. Muitas indústrias,  comércio e isso alteraram as relações sociais aumentando a demanda em relação à saúde, educação e todos os  demais serviços públicos. Suzano deu um salto significativo nesse período.
Fatos da Região: Por que a opção pela periferia?
Carlão: Por um projeto “No movimento sindical temos um bordão que diz que a luta continua, sendo assim acreditamos na possibilidade de melhorias, de ganharmos a contenda” pessoal em fazer a luta em defesa da escola pública, dos serviços públicos na oposição ao projeto neoliberal em construção desde o início da década de 1980, uma luta contra a exploração.
Fatos da Região: Você escolheu um lado?
Carlão: Participo na luta pela escola pública, na região desde 85, mas iniciei mesmo, na Subsede APEOESP de Diadema em 82. O comprometimento com a defesa do direito dos excluídos que a nossa sociedade promove. A falta de oportunidades que ainda gera mais injustiça social, pois não tendo  condições financeiras muitas pessoas não participam da sociedade tendo seus direitos desrespeitados.
Fatos da Região: Muitos defendem o modelo de educação dos Estados Unidos, o que achas?
Carlão: Entendo que o modelo estadunidense dá conta do desenvolvimento capitalista, e eu não acredito que este modelo atenda aos interesses da maioria,um número muito grande de pessoas sempre ficará de fora dela, mesmo para os estadunidenses.
Fatos da Região: Explique!
Carlão: A partir da década de 1980 o capitalismo estabeleceu uma nova relação de investimentos na área social, trabalhando com a lógica do estado-mínimo,e nisso acabou asfixiando os serviços públicos.
Fatos da Região: Você então tomou um lado...
Carlão: É contra isso que luto, junto com milhões de militantes no país, que se posicionam e  encaminham a luta contra as causas dessa situação. Que é o modo de produção capitalista.
Fatos da Região: É possível um capitalismo com face humanizada?
Carlão: Não acredito que o capitalismo atinja o humanismo porque ele vai na contra mão, explorando a mão de obra assalariada,ele vive do lucro pleno, ele precisa de um consumidor ávido pela compra, um
compulsivo comprador. Entendo então que ele é um predador da existência, colocando em risco a própria existência da raça humana no planeta.
Fatos da Região: Autodestrutivo?
Carlão: A ferocidade do capitalismo é intensa. Assistimosas iniciativas de da ruma cara de  sustentabilidade a ele, mas esbarra no poder do grande capital estadunidense, com sua máquina de guerra, que ainda não conseguimos
deter. E mesmo no Brasil, veja a proposta do novo código florestal. O agronegócio, os ruralistas estão levando a melhor e deixarão o meio ambiente na pior.
Fatos da Região: E os fóruns mundiais?
Carlão: Os jogos de cena como a Rio 92 e a Rio + 20, com propostas bem atrasadas em relação às necessidades.
Fatos da Região: Mas voltando à Educação!
Carlão: Se não houvesse lutas árduas pelo movimento sindical nestas três últimas décadas contra o  modelo neoliberal, a crise seria pior. O número de funcionários da educação, que já é insuficiente, seria ainda menor. Se não tivéssemos feito todos os embates contra os governos a redução dos investimentos na Educação seria anda maior, pois o estado-mínimo proposto seria implantado com mais intensidade.

Fatos da Região: E sobre a caótica situação da Educação em São Paulo?
Carlão: O que vemos em São Paulo é a fiel obediência à cartilha do estadomínimo, retirando investimentos com educação, transporte, saúde, segurança, provocando crises como as que estamos vivendo hoje.
Fatos da Região: E a violência nas escolas?
Carlão: Ela tem uma raiz nas diferenças sociais em função da chamada disputa e concorrência entre os “iguais”, e quando isso acontece em um espaço com as características da escola é que acontecem as
explosões...
Fatos da Região: Mudar o que?
Carlão: O modelo de Educação está orientado à competição, disputa e violência. O verdadeiro modelo educacional tem que ir no sentido de promover a solidariedade, a tolerância, o convívio humanizado
e harmonioso, daí a violência latente em todas as unidades escolares do país.
Fatos da Região: há luz na escuridão?
Carlão: Temos que fazer um projeto pedagógico que se contraponha a esta orientação nefasta, para colaborar na redução da violência, pois a raiz da violência não está na escola e ela não vai resolver o
problema.
Fatos da Região:
O que propõe?
Carlão: Nestes 10 anos tenho defendido o Projeto Família Educadora. Ele navega com considerações e críticas ao consumismo, à competição doentia, o exibicionismo do ter, apresentando concepções e colocando alternativas, pois se a família consegue compreender a dimensão do estrago social, que o sistema provoca, ela vai responder a altura com grande participação

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