domingo, 27 de março de 2011

Entrevista: Douglas Martins Izzo

Secretário de Organização da APEOESP
Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo
 

















“O governo estadual parte do princípio do gasto mínimo e isso vai e em sentido contrário a uma escola de qualidade”
“Deve haver mais investimento tanto em infraestrutura como na valorização do profissional da educação”
“O que deveria ser uma política de inclusão social acaba sendo uma política de postergação da exclusão”


Fatos da Região: Quando você entrou para o magistério?
Douglas Izzo: Em 1992, em Diadema
Fatos da Região: E atualmente?
Douglas Izzo: Em 1995 comecei em Itaquaquecetuba e leciono geografia nas escolas Homero Fernando Milano e Domingos Milano, ambas em Itaquá.
Fatos da Região: E no sindicato?
Douglas Izzo: Desde 1992 como RE (Representante Escolar). Em 1999 fui eleito conselheiro na APEOESP.
Fatos da Região: Como está a escola pública em São Paulo, hoje?
Douglas Izzo: Muitos problemas estruturais, desvalorização das carreiras do magistério o que acaba desencadeando a queda da qualidade do ensino.
Fatos da Região: Em 1992 era igual ?
Douglas Izzo: Não! A relação era outra com os estudantes que desempenhavam muito mais na escola. Hoje a situação é muito ruim.
Fatos da Região: O que houve então?
Douglas Izzo: Em 1998 o governo da São Paulo implantou a Progressão Continuada sem o menor debate com a comunidade, sem a formação dos professores e com as piores condições possíveis.
Fatos da Região: Quais condições?
Douglas Izzo: Salas superlotadas, falta de apoio pedagógico, são elementos que acabam distorcendo o conceito de progressão continuada.
Fatos da Região: Que conceito é esse?
Douglas Izzo: O professor realiza avaliação e detecta as dificuldades  e propõe atividades de recuperação e reforço para desenvolver o aprendizado dos estudantes ao longo do ciclo.Trabalhando as diferenças para quando chegar no final do ciclo esteja no nível de aprendizado desejado.
Fatos da Região: Progressão Continuada virou aprovação automática...
Douglas Izzo: Como o professor não tem as condições de trabalhar direito, com classes de 50, 60 alunos, jornada em duas redes, problemas estruturais nas escolas, ele não tem condições de fazer o melhor. O que deveria ser uma política de inclusão social acaba sendo uma política de postergação da exclusão.
Fatos da Região: Como assim?
Douglas Izzo: O aluno conclui sua vida escolar e será excluído na vida profissional e de estudos, pois não vai se encaixar no mercado de trabalho e nas melhores universidades.
Fatos da Região: E problemas de saúde?
Douglas Izzo: As condições de trabalho e jornada extenuantes levam o professor a ser acometido por uma série de doenças profissionais.
Fatos da Região: Quais?
Douglas Izzo: Bursite, calo nas cordas vocais, síndrome do pânico, estresse, depressão...
Fatos da Região: Qual a classificação do ensino em São Paulo?
Douglas Izzo: Segundo o MEC (Ministério da Educação) São Paulo está bem abaixo da média nacional.
Fatos da Região: Por que?
Douglas Izzo: Por condições internas, sociais, e falta de políticas específicas na região por parte do governo. Deveria haver mais investimentos nessas áreas, mas infelizmente isso não acontece.
Fatos da Região: No contexto político?
Douglas Izzo: O que temos é de um governo neoliberal que tem uma visão de Estado-mínimo, não investe na educação e repassa parte dessa incumbência para outro ente público que é o município.
Fatos da Região: E a violência?
Douglas Izzo: Sim! Infelizmente são comuns.
Fatos da Região: Mas a Secretaria de Educação e a Diretoria de Educação alegam desconhecer qualquer caso de violência?
Douglas Izzo: O governo paulista tem a política de jogar o problema debaixo do tapete, pois na realidade não resolve o problema, existe a política da intimidação aos professores que denunciam.
Fatos da Região: Como?
Douglas Izzo: O professor é questionado pela direção e desestimulado a prosseguir e são desaconselhados a não registrar um boletim de ocorrência.
Fatos da Região: E a polícia, como se comporta?
Douglas Izzo: Temos um professor que levou quase quatro horas para fazer um Boletim de Ocorrência e outros que a polícia se recusou a fazer.
Fatos da Região: E as políticas do governo como dois professores em sala de aula ...
Douglas Izzo: Não existe em São Paulo porque o Estado é negligente e não assume a demanda do primeiro ano.
Fatos da Região: E o Ministério Público?
Douglas Izzo: O Estado municipaliza e a demanda está sendo passada para o município...
Fatos da Região: Qual a saída?
Douglas Izzo: Investimento nas escolas, valorização dos profissionais da educação e a democratização não só do acesso, mas da gestão escolar em São Paulo que é nenhuma. Democratizar significa trazer a coletividade para a gestão pública da educação.















Professores Douglas Izzo, Idelfonso e Milton Lana em bloqueio da Polícia Militar durante a greve dos professores de 2010

Um comentário:

  1. È isso mesmo Douglas, sempre lutando por um ensino melhor e valorização dos professores!

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